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Romance escrito em tempo real

domingo, 31 de janeiro de 2010

Uma canção inesquecível


Troc... troc... troc... troc...
Ligeirinhos, ligeirinhos,
Troc... troc... troc... troc...
vão cantando os tamanquinhos...

Algumas vezes, em meio à correria do dia a dia, sou surpreendida pela sonoridade desses versos. Eles faziam parte do primeiro livro de poesia que usamos na escola. O que eu não sabia naquele tempo é que versos, uma vez decorados, serão irremediavelmente lembrados e que aquele primeiro raio de poesia iluminaria para sempre os nossos caminhos.
Livres tamanquinhos que cantarolavam na chuva e que na madrugada faziam troc... troc... pelas portas dos vizinhos. Expressavam uma liberdade que pouco conhecíamos e que mais tarde nos encantaríamos novamente pela forma como foi descrita pela própria Cecília Meirelles :

"Liberdade – essa palavra
que o sonho humano alimenta:
que não há ninguém que explique,
e ninguém que não entenda".
(cecília Meireles)


Stella Tavares

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Doces Lembranças

Lelei era um adolescente magro, alto, tinha os cabelos crespos e serenos olhos verdes que destoavam de todo o resto. Tinha dentro de si uma alma que mais se assemelhava a um beija-flor, borboleta ,bailarina. Não dava para saber ao certo.
Todas as noites ia até a nossa casa com uma latinha de leite ninho, sem rótulo, pedir sobras do jantar, mas antes de entregar a sua lata reluzente, começava a cantar canções que não sei de onde vinham. Seus dedos longos batiam e escorregavam delicadamente e o som extraído da lata virada com a tampa para baixo acompanhava sua voz macia e que mais se assemelhava a uma menina- moça perdida em meio a sua inocente faceirice. Tão logo terminava a apresentação, o seu instrumento musical era entregue para que novamente voltasse à sua função original e fosse levada até a cozinha e preenchida com tudo que ainda nas panelas havia.
Agradecido pela comida e pela platéia fiel de todas as noites, ia-se embora com os seus dedos longos segurando a lata que continha o seu jantar ou couvert artístico como talvez o enxergasse e enquanto subia a rua cantarolava e ia criando novas canções.

Stella Tavares