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Romance escrito em tempo real

terça-feira, 27 de julho de 2010

Nomes e Pessoas

Existem pessoas cuja personalidade nada tem a ver com o nome que carregam vida a fora. Conheci muitas Generosas que eram verdadeiras muralhas, se mantinham à distância, sem a menor vontade ou dom de compartilhar, ajudar, doar. Conheci Santas, endemoniadas, inclusive uma vizinha que usava os próprios filhos para segurar os “inimigos” para que ela própria pudesse espancá-los até quando forças tivesse. E não é difícil explicar tanto desacordo entre nomes e personalidades: nomes são escolhidos para bebês, puros, indefesos, risonhos, com uma moleira que pulsa nos lembrando o tempo todo quanto cuidado precisam.
Conheci também pessoas cujos nomes foram assoprados, vieram junto com o sopro de vida, acredito. Como o nome de minha irmã, Maria Auxiliadora, nome certo, totalmente em harmonia com sua personalidade, seu espírito sempre aceso, pronto para o auxílio, o primeiro socorro.
E passaram-se os anos, mudaram os costumes, as pessoas, atitudes, mas em Maria Auxiliadora nada muda porque essência não é passível de mudanças. Tanto faz se a chamamos de Dora, Dorinha, Dôra , Maria, o que importa é a sua essência, que se lhe fosse tirada seria como tirar o sentido do seu viver. Para isso nasceu Maria Auxiliadora, Dora, Dorinha, Dôra , não importa o nome que a chamamos, porque o que sempre fica é a essência que exala de suas mãos.
Stella Tavares

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Em cena aberta


Enquanto leio, extravaso meus sentimentos das mais variadas formas. Já deixei um livro sobre a mesa, para aplaudi-lo. Nunca soube muito bem o que fazer com o que sentia, mas sempre soube que o aplauso é uma intensa forma de homenagem. Outras vezes, quando leio Clarice Lispector, por exemplo, necessito de uma pequena pausa para que as palavras se acomodem, se decantem.
Já li todos os livros de Harry Potter e aguardo o filme do livro mais recente com grande entusiasmo.Tenho um filho de nove anos e outro de treze, com os quais compartilho, prazerosamente, filmes e leituras. Sempre voltamos conversando sobre o filme, comparando-o com o livro, na mesma sintonia.
Na minha infância ia ao cinema com frequência e nunca deixei de me encantar com a conexão estabelecida. Lembro-me que aplausos aconteciam, espontâneos, fazendo com que os próximos diálogos não fossem ouvidos. Alguns adultos se aborreciam e preferiam a segunda sessão para se livrar dos arroubos juvenis e eu me perguntava
se chegaria o dia em que ficaria impassível frente a um livro ou filme, mas esse dia nunca chegou. Minha alma fica em estado de graça enquanto assisto Avatar, Up, tantos filmes e livros com o poder de transportar e sinto que assim será para sempre, a cada página, a cada filme, a cada peça teatral e agradeço a Deus que assim seja.

Stella Tavares

sábado, 3 de julho de 2010

O outro lado da moeda

E eis que a ideia se aproxima. Inteira, intacta, única. Personagens recém-chegados se apresentam, perfilam, mostram seus encantos. Seduzem nossos sentidos. Bastam alguns segundos e os conhecemos como a nós mesmos. Estamos prontos a defendê-los com unhas e dentes. Traçamos seus destinos. Nesse momento somos o próprio destino ou um deus com poderes limitados por sentimentos e parcialidades. Por mais diferentes que sejam os personagens, estaremos sempre nas entrelinhas. Passamos dias, meses mergulhados em um universo de diálogos, reações. A história caminha, algumas vezes segue o seu próprio rumo. Damos uma pausa, mas os sentimentos permanecem em nós. Seguem-nos no desenrolar do nosso dia. Saímos do computador, mas o que sentimos nos acompanha pela rua, na reunião de pais e mestres, na feira. Até que chega o dia em que descansamos e simplesmente observamos. Tudo se encaixa frente aos nossos olhos. Todos os sentimentos, antes fios desencapados, agora fluem numa energia que confirma que aconteceu o que de melhor poderia. Estão todos encaminhados. Registramos a obra e aguardamos pelo que já sabíamos: São nossos filhos legítimos, sem dúvida! Encaminhamos o original ao editor e aguardamos com a alma exposta. Quanto a mim, pergunto-me se um dia aprenderei a aguardar para saber como se saíram meus filhos? Que sentimentos despertaram? Desisto mil vezes em pensamento, mas antes que perceba uma nova ideia se aproxima:

_Toc toc.

_ Não vou abrir! Digo a mim mesma, mas as ideias insistem.
Sem escapatória, permito a história se apresente, os personagens se mostrem, seduzam os meus sentidos. E eis que tudo recomeça.

Stella Tavares