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Romance escrito em tempo real

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Durante décadas escrevi sem ter coragem de dizer a outras pessoas que era escritora. Achava que soaria como empáfia, falta de modéstia. Descobri que temia o peso que a palavra escritora impunha. Não faz muito tempo que parei e pensei: se tivesse o dom da venda, não hesitaria em dizer que era uma vendedora, se tivesse habilidade com cabelos, sei que também não me incomodaria em dizer que era uma cabeleireira então porque esse receio? Em geral somos o que escolhemos fazer por identificação, habilidade. Não há falta de modéstia em reconhecer o que fazemos com mais facilidade. Sou desajeitada para tantas outras coisas: trabalhos manuais, números, jamais seria uma arquiteta, enfermeira, médica e tantas outras profissões. Escrever é um eterno aprendizado e ao contrário do que dizem os camelôs nas ruas das grandes cidades ao venderem instrumentos para cortar legumes e frutas: “não requer experiência tampouco habilidade”! Quando escrevemos necessitamos sim de habilidade e a experiência é uma grande aliada.. Experiência que se adquire escrevendo.Todos os dons são nobres e importantes. Merecem o nosso respeito e nossa alegria por havê-los recebido indo sempre de encontro ao aprimoramento

Stella Tavares

sexta-feira, 24 de abril de 2009

RELATOS DE UMA ESCRITORA.COM

QUEM SEMEIA PALAVRAS COLHE SENTIMENTOS

RELATOS DE UMA ESCRITORA.COM
AGUARDO POR SUA VISITA: http://relatosdeumaescritora.blogspot.com

Stella Tavares

segunda-feira, 20 de abril de 2009

A minha insegurança Plínio Menegon - 55 anos Laranjeiras do Sul - PR

Nascido e criado em cidade pequena, tínhamos o rádio como o maior meio de comunicação. Peguei paixão pelas grandes vozes da Rádio Bandeirantes, Tupi, Globo e sonhava em ser locutor. Ali pelos 13 anos, declamava poesias em aniversários de colegas de escola, dia do professor e assim por diante. Aos 16 anos e fazendo parte de um grupo de jovens ligados a Igreja Católica, comecei a fazer a liturgia nas missas de sábado à noite e acreditando que estaria abrindo caminhos.

Certo dia, uma professora de Educação Artistas (naquele tempo tinha), começou a explicar como declamar uma poesia, ler um texto, coisas de imposição de voz, de dar “ênfase” às palavras etc etc. E aproveitou para abrir um parêntese. Dizia ela que quem tem boa voz, geralmente são pessoas que têm a boca grande. E citou como exemplo Cid Moreira e Sérgio Chapelin, então apresentadores do Jornal Nacional. Quanto maior a boca, melhor a sonoridade, as palavras são audíveis, o ar que sai dos pulmões é de maior volume e outras tantas citações que nem gosto de lembrar.
Não sei se essa observação tinha um alvo, mas comecei a desconfiar, pois tenho a boca pequena. Ali começou a morrer meu sonho.

Com muito custo consegui emprestado um gravado. Gravei um texto quatro vezes. Falando com naturalidade, com o gravador um pouco mais longe; falando pausadamente; dando “ênfase” às palavras. E ao ouvi-la conclui: minha voz não era de tom grave como eu imaginava e pior: é fanha. Terrível. Comecei a observar a boca de todos os apresentadores da TV e constatei: todos tinham a boca grande.
Nunca mais declamei poesias e desde então fujo de microfone como o diabo da cruz.

Hoje, vivendo no meio da comunicação e tendo amigos na área do rádio, seguidamente sou “convidado” a falar num microfone apesar de já ter pedido encarecidamente para que me poupassem desse martírio.
Quando não tem como escapar, procuro falar o mínimo possível e, preocupado com o “meu tom de voz”, acabo esquecendo do assunto a ser abordado. Gaguejo.
Bate uma insegurança de fazer inveja a uma criança. Eu simplesmente odeio falar num microfone.
Por ironia do destino, trabalho em jornal e vivo com o gravador na mão. Ao entrevistar, procuro deixar o entrevistado bem à vontade explicando que a gravação não é para rádio, e sim para jornal, para depois se extrair o texto. Digo: - Esqueça que o gravador está aqui e vamos conversar normalmente.
Pelo menos tento passar essa “segurança” ou meu interlocutor. E tem funcionado.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

A Substância do Esquecimento:

Assistindo à reportagem do Fantástico que foi ao ar no dia 12.04.09 em que foi divulgado sobre uma substância que leva ao esquecimento, ainda em fase de testes, tive uma grata surpresa.
Fosse esta notícia divulgada há alguns anos atrás ficaria extremamente feliz tornando-se o meu maior sonho de consumo. “Já imaginou? Diria eu, eufórica, poder apagar do cérebro tudo que nos feriu, machucou e que ainda incomoda?” Fiquei feliz ao ver minha reação após a exibição da reportagem ao perceber que não penso mais desta forma. Por já haver adquirido a consciência de que não existe nada que nunca cicatrize, por mais que doa e que são exatamente esses momentos que nos lapidam, nos levam avante, nos preparam para a vida. Digo isso sem o menor traço ou vocação para o masoquismo. Hoje me orgulho de tudo que passei. Todas essas experiências fazem parte da minha história de vida, são únicas e tão exclusivas como minhas digitais e intransferíveis assim como elas. Toda a nossa trajetória são caminhos que nos levam à evolução, ao autoconhecimento. O que não podemos, de forma alguma é estacionar em nossos próprios erros, ficarmos expostos à sua devastadora irradiação, passarmos a vida sendo guiados por questionamentos vãos, inúteis. Cobrando-nos descabida perfeição. A cobaia usada na referida experiência, após o uso da medicação, esquecia-se por completo do choque que levou e voltava à zona de perigo ao passo que o outra cobaia que não usou a medicação, munida da precaução que a experiência ensina, se protegia. Não vale à pena amputar lembranças, experiências da nossa história de Vida, independente do seu teor. Se forem boas nossas lembranças, elas estarão sempre prontas a iluminar nossos olhos, se forem ruins, mas bem usadas e interpretadas, funcionarão mais ou menos como firmes e adiantados passos rumo ao nosso amadurecimento.

Stella Tavares

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Quando o consumismo se torna uma muleta para as nossas inseguranças:

Eliana – São Paulo - Brasil


Na primeira crise que enfrentei senti um vazio imenso. Todo lugar que eu ia, independente se fosse uma festa, uma reunião de família, viagem, onde eu estivesse aquela sensação de vazio, impotência me acompanhava. Foi aumentando, crescendo, uma verdadeira bola de neve. Lembro-me da primeira vez que ao sentir assim, entrei no shopping e estourei o meu cartão de crédito. Saí de lá totalmente aliviada! Havia descoberto a América! Toda vez que me sentisse assim era só dar um pulinho no shopping e lá comprar a minha auto-estima e ainda levaria de quebra a paz. O que eu ainda não sabia era como passava rápido aquele efeito. Algum tempo depois, sentia um arrependimento tão profundo que suplantava qualquer alegria que, por ventura, tivesse sentido enquanto comprava. Algumas roupas nem tirava da sacola da loja e, muitas vezes, o que me consolava era quando pensava, tão logo tenha algum aniversário de uma amiga, o presente já estará comprado, mas dependendo do meu estado de espírito, tudo que eu queria era
livrar-me logo daquele peso de consciência e acabava dando de presente para a primeira pessoa que tivesse o mesmo manequim. O normal seria que após o desvario e suas conseqüências, eu nunca mais cometesse um ato como aquele. Seria muito bom se fosse assim... Com o passar do tempo voltei a buscar por algum alívio, alguma forma de me sentir gente, uma mulher e de preferência bonita e bem vestida. Decidida e em posse do meu talão de cheques, escolhi desta vez não comprar roupa, mas roupas de cama e objetos de decoração para o meu quarto. Que tipo de depressão, baixa auto-estima, o escambal a quatro, resistiria a um quarto bem decorado, toalhas felpudas... Comprei tudo que acreditava precisar, mais que isso, ser indispensável para uma vida feliz e equilibrada.
Desta vez o arrependimento não esperou que eu chegasse em casa com as sacolas. Entrei em casa aos prantos. Realmente, auto-estima não se encontra em araras, prateleiras e vitrines. Descobri naquele momento que sozinha não venceria. Desci do salto e decidi enfrentar as minhas dificuldades. Tem quase um ano que freqüento um grupo de terapia de ajuda e sinto-me muito bem, nunca mais tive recaídas, mas como aprendi lá é preciso viver um dia de cada vez. Sei que HOJE não me entreguei ao consumismo. E isso já é motivo mais que suficiente para que eu me sinta feliz e equilibrada.

Depoimento enviado através do email: manualdoinseguro.yahoo.com.br

Por falar em Depoimentos...

Muitas pessoas enviam emails dizendo não se sentirem capazes de escrever suas próprias experiências. Quero dizer a todas elas que cada depoimento é uma simples, mas rica troca de experiências e que não buscamos por obras literárias e sim relatos de pessoas dispostas a compartilhar suas experiências. Ninguém é obrigado a saber escrever, a ter dotes literários e também porque o objetivo não é esse Não será por esse motivo que ficaremos sem a sua preciosa colaboração. O que importa, o que fica é a essência de cada um. As formas como superamos as nossas dificuldades, os exemplos enriquecedores. Envie o seu depoimento, se assim o preferir, ele poderá ser reescrito com fidelidade e respeito.
. Não deixe de participar!!!

As experiências do Sr. Volante

As experiências do Sr. Volante:


Quem assiste a desenhos animados entenderá perfeitamente o meu codinome Sr. Volante. Ele era um pacato senhor como tantos outros, mas, quando entrava em seu carro sua personalidade mudava da água para o vinho e ele se tornava o Sr. Volante: Agressivo, imponente, poderoso. A diferença entre o personagem e eu é que quando ele saía do carro voltava a ser aquele homem equilibrado, tranqüilo, senhor de suas reações. No meu caso, totalmente desprovido de auto-estima só me sentia gente quando tinha um bom carro, pra dizer a verdade, o melhor, do ano, o que era sonho de consumo da maioria das pessoas que conhecia. Em busca da afirmação que me traria a compra de um carro zero, fiz inúmeras loucuras, uma vez quase perdi a casa! Desestabilizei toda a família, faltaram os presentes de natal de minhas crianças. Minha vida tornou-se um caos, mas bastava melhorar um pouquinho as coisas, uma fresta de luz que fosse no fim do túnel para que eu me esquecesse tudo que passei e levasse o carro que estava usando a menos de um ano e o trocava por um outro mais caro. Andava ou melhor desfilava pelas ruas a minha mais nova aquisição e sentia-me poderoso, bem sucedido, invejado. Com o passar dos tempos essa sensação ia perdendo a força e lá estava eu com a auto-estima no pé, endividado e aquele elefante branco com o seu pesado IPVA . O sofrimento chegou no limite máximo! Vivia insatisfeito, nervoso, brigava com o mundo como se todos fossem culpados pelas minhas burradas. Minha família sofrendo junto, amargando comigo. Minha mulher convenceu-me que estava doente e precisava de ajuda e que não era vergonha nenhuma procurar por um profissional, procurar tratamento.... Se tivesse que tomar remédios e daí? Falou-me sobre o TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), me deu exemplos de pessoas famosas e queridas que sofrem do mesmo mal. Foi ela mesma quem marcou a minha primeira consulta. Saindo de lá passamos na farmácia e compramos os remédios (faixa preta e vermelha) e daí? Meu orgulho não me aprisionaria mais, nunca mais. Vendi o carro, saldei meus compromissos e a partir daí as coisas começaram a melhorar. Vou andar a pé até o momento em que tiver condição de ter um outro carro, por enquanto não dá.Estou quase com as contas em dia, dos muitos remédios que tomei restaram dois e a terapia que faço uma vez por semana. Se quisesse até já poderia comprar um carro usado, mas não tenho mais pressa. Sou um pedestre de cabeça erguida, sinto orgulho de mim e é isso que importa. Descobri que não comprava carro para mim e sim para mostrar para os outros. Sou agradecido a minha esposa que me ajudou a superar os momentos difíceis e garanto que o mais difícil foi vencer o meu próprio orgulho.

Gabriel Ribeiro dos Santos – 49 anos Ex- Sr. Volante

Depoimento enviado para o email: manualdoinseguro@yahoo.com.bro Sr Volante:

sábado, 11 de abril de 2009

Aleluia! Pelo renascimento nosso de cada dia

Assoprava aleluias esvoaçantes na minha infância, as quais colhia com cuidado e perícia. Estudava até a posição do vento. Que força e magia teriam se assoprasse uma aleluia subtraída pelo vento? Ficava admirando o que os meus olhos acreditavam serem milhares de partículas levadas para sempre e a todos os lugares desse mundo. Este foi o meu primeiro contato com a palavra Aleluia! Apesar de não saber que significado tinha, apenas entendia o que sentia e via. Aleluia da beleza! Do espetáculo das partículas mensageiras que, conduzidas pelo vento levariam o meu pedido à presença de Deus.
Hoje os meus filhos assopram os seus desejos. Quanto a mim, a bem da verdade, nunca deixei de assoprá-los. Exatamente como faço agora nesse sopro de Aleluia! Que agora compartilho.
Uma feliz Páscoa a todos e Aleluia!
Pela Ressurreição de Cristo e renascimento nosso de cada dia.

Stella Tavares

segunda-feira, 6 de abril de 2009

A importância do primeiro passo – Andréa Bertiglione 27 anos

Nem percebi quando foi que tudo começou, mas quando me dei conta, não sentia mais vontade de sair de casa, passear, viajar... Passei a ficar reclusa e quando percebi o medo já havia se instalado. Temia por tudo. Só me sentia tranqüila se um dia fosse exatamente igual ao outro sem a menor alteração. Bastava o toque do telefone para que o pânico se instalasse. Foram dias difíceis. Mais que dias, meses até. Lembrava-me de como era, mas sentia que o caminho de volta era tão longo... Quase inatingível. Acho que havia me esquecido a importância que tem o primeiro passo. É o primeiro passo que faz a diferença, um verdadeiro divisor de águas. Decidi, bem no meu íntimo, que aquela não era a vida que sempre quis pra mim. Não era a vida que queria ou merecia.
Para a surpresa de todos, que já haviam silenciado após tanta insistência, chegaram até a cogitar a possibilidade de levar-me à força em busca de um tratamento, peguei o telefone com minhas próprias mãos e marquei minha primeira consulta.
Um passo após outro e outro e, de lá pra cá, meu Deus! Quantas conquistas!

Depoimento postado através do email manualdoinseguro@yahoo.com.br

domingo, 5 de abril de 2009

Depoimento enviado ao manualdoinseguro@yahoo.com.br

Sem olhar para trás

Quando a depressão pós-parto se instala:



Nunca fui uma pessoa insegura, mas lembro-me como se fosse hoje o nascimento de minha primeira filha. Tanto aguardei por aquele momento, com tanto entusiasmo e, quando esse momento chegou, não conseguia me sentir feliz. Culpava-me por isso. Sentia-me a pior pessoa desse mundo. Se leoas, girafas amam e sabem cuidar de suas crias...Se até as tartarugas que põem os seus ovos na areia e vão embora, o fazem por amor e como forma de proteção, então por que justo eu uma mulher esclarecida, normal, não conseguia externar o meu amor? Sentia-me despreparada, incomodada, sem identidade e extremamente insegura. Toda vez que minha filha chorava eu chorava junto. Julgava-me uma péssima mãe e sentia um medo fóbico de perdê-la por culpa da minha inexperiência e até incapacidade. Aconselhada por uma amiga, procurei um médico que, imediatamente diagnosticou minhas culpas e desabamentos: depressão pós-parto. Voltei para casa com algumas caixas de remédio na bolsa e o coração mais feliz e aliviado. Não era uma fêmea sem sentimentos, era simplesmente uma pessoa fragilizada e que carecia de tratamento.

Algum tempo depois estava recuperada e pronta para ser a mãe que sempre imaginei que seria. A partir daí tive forças para seguir e procurei não olhar para trás. Tive mais duas filhas, mas esse quadro nunca mais se repetiu. Achei importante dar esse tipo de depoimento. Não quis me identificar pelo simples fato de que não quero que minha primogênita saiba que, mesmo involuntariamente, a rejeitei, ainda que fosse por um segundo.

Uma leitora do blog

quarta-feira, 1 de abril de 2009

NEM PEDRA... NEM TIJOLO

Júlio César era um homem solteiro de seus quarenta e poucos anos que morava com sua mãe e duas irmãs. Passava a maior parte do tempo na fazenda e, nas raras vezes que vinha à cidade, e tinha de enfrentar olhares, ele se desesperava. Era imensamente tímido.

Lembro-me de que ele sempre portava nas mãos um objeto qualquer, como a dissimular seu desconforto diante das pessoas. Enquanto passava por elas, dedilhava sobre o objeto, dedos compridos e desajeitados, rosto alternando em cores. Assim sentia-se seguro, já que nunca sabia onde colocar as mãos.

Todos percebiam que aquela era a única maneira de enfrentar esses obstáculos, quase uma missão, o de não demonstrar tamanha insegurança. Mas só conseguia evidenciar ainda mais o problema. A cada vinda à cidade, repetia-se o ritual.

Júlio César perdeu a mãe, uma das irmãs, deixando então, de freqüentar a cidade. Por absoluta falta de motivos, creio que não esteja vivo.

Se me fosse dado defini-lo, hoje, diria não ter sido feio, nem bonito; se não fez nenhum bem, também, nenhum mal causou a ninguém. Parecia não se perder de amores e nem que alguém tivesse suspirado por ele. Era insosso, de vida insípida.

Às vezes, me pergunto como teria sido sua vida, se tivesse derrubado aquela imensa muralha que lhe atrofiava os gestos, reduzia-lhe os sorrisos, mutilava suas palavras...