Seguidores

Romance escrito em tempo real

segunda-feira, 13 de abril de 2009

As experiências do Sr. Volante

As experiências do Sr. Volante:


Quem assiste a desenhos animados entenderá perfeitamente o meu codinome Sr. Volante. Ele era um pacato senhor como tantos outros, mas, quando entrava em seu carro sua personalidade mudava da água para o vinho e ele se tornava o Sr. Volante: Agressivo, imponente, poderoso. A diferença entre o personagem e eu é que quando ele saía do carro voltava a ser aquele homem equilibrado, tranqüilo, senhor de suas reações. No meu caso, totalmente desprovido de auto-estima só me sentia gente quando tinha um bom carro, pra dizer a verdade, o melhor, do ano, o que era sonho de consumo da maioria das pessoas que conhecia. Em busca da afirmação que me traria a compra de um carro zero, fiz inúmeras loucuras, uma vez quase perdi a casa! Desestabilizei toda a família, faltaram os presentes de natal de minhas crianças. Minha vida tornou-se um caos, mas bastava melhorar um pouquinho as coisas, uma fresta de luz que fosse no fim do túnel para que eu me esquecesse tudo que passei e levasse o carro que estava usando a menos de um ano e o trocava por um outro mais caro. Andava ou melhor desfilava pelas ruas a minha mais nova aquisição e sentia-me poderoso, bem sucedido, invejado. Com o passar dos tempos essa sensação ia perdendo a força e lá estava eu com a auto-estima no pé, endividado e aquele elefante branco com o seu pesado IPVA . O sofrimento chegou no limite máximo! Vivia insatisfeito, nervoso, brigava com o mundo como se todos fossem culpados pelas minhas burradas. Minha família sofrendo junto, amargando comigo. Minha mulher convenceu-me que estava doente e precisava de ajuda e que não era vergonha nenhuma procurar por um profissional, procurar tratamento.... Se tivesse que tomar remédios e daí? Falou-me sobre o TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), me deu exemplos de pessoas famosas e queridas que sofrem do mesmo mal. Foi ela mesma quem marcou a minha primeira consulta. Saindo de lá passamos na farmácia e compramos os remédios (faixa preta e vermelha) e daí? Meu orgulho não me aprisionaria mais, nunca mais. Vendi o carro, saldei meus compromissos e a partir daí as coisas começaram a melhorar. Vou andar a pé até o momento em que tiver condição de ter um outro carro, por enquanto não dá.Estou quase com as contas em dia, dos muitos remédios que tomei restaram dois e a terapia que faço uma vez por semana. Se quisesse até já poderia comprar um carro usado, mas não tenho mais pressa. Sou um pedestre de cabeça erguida, sinto orgulho de mim e é isso que importa. Descobri que não comprava carro para mim e sim para mostrar para os outros. Sou agradecido a minha esposa que me ajudou a superar os momentos difíceis e garanto que o mais difícil foi vencer o meu próprio orgulho.

Gabriel Ribeiro dos Santos – 49 anos Ex- Sr. Volante

Depoimento enviado para o email: manualdoinseguro@yahoo.com.bro Sr Volante:

Nenhum comentário: