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Romance escrito em tempo real

terça-feira, 24 de março de 2009

Um bicho de sete cabeças

A primeira entrevista que fiz a cerca da insegurança foi no ano de 1990. Lembro-me que disse a uma pessoa, amiga de algum tempo se ela poderia me conceder uma entrevista e ela, imediatamente prontificou-se, marcou data e hora com grande entusiasmo. Na hora marcada adentrei em sua sala e ela recebeu-me com um sorriso e uma cerimônia que não mais existia entre nós. Éramos íntimas e já tínhamos pulado esta etapa fazia algum tempo.

Achei que o melhor a fazer seria colher o primeiro do que seria uma série de depoimentos . Nunca mais consegui esquecer a expressão de Eleonora, decidi batizá-la assim para que nos tornemos logo todos íntimos. A minha pergunta foi a seguinte: ¨_Eleonora, você alguma vez já se sentiu insegura? Senti que a partir daquele momento todos os salamaleques e rapa-pés seriam interrompidos. Ela fuzilou-me com os olhos e disse com voz grave:

_Pareço uma pessoa insegura?

_Claro que não. A pessoa não precisa ser insegura para sentir insegurança. Pode acontecer em diversos momentos da nossa vida.Pode acontecer na infância, adolescência, primeiro dia de aula, antes do primeiro beijo, sei lá... O que interessa é a maneira como lidamos ou nos livramos...

_Pois eu lhe asseguro que comigo isso nunca aconteceu. Não sei do que você está falando e até acredito que você esteja perdendo tempo comigo. Não tenho como lhe ajudar. Daquele momento em diante percebi que a entrevista havia terminado, quiçá nossa amizade. Agradeci e voltei para casa.

A minha vontade a princípio foi parar por ali, Nunca mais tocar nesse assunto que, aos poucos fui descobrindo, mais parecia um bicho de sete cabeças para tantos. Acredito que causaria menos estranheza ou dissabor se lhes perguntasse se eram egoístas, se mentiam com freqüência, com quantos anos perderam a virgindade..Descobri que o mundo estava cheio de pessoas seguras que se ofendiam por falar no assunto.. A nossa amizade nunca mais foi a mesma, mas apesar disso continuei com minhas pesquisas e ouvi depoimentos incríveis.

Mudou a década, o século, ainda assim, de vez em quando ainda me deparo com algumas Eleonoras, mas o que mais conheci foram pessoas generosas e que estão sempre dispostas a colaborar e enriquecer ainda que anonimamente. A todas essas pessoas anônimas e também aos meus bravos, ilustres seguidores e leitores recebam um terno abraço e os meus mais sinceros agradecimentos.

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