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Romance escrito em tempo real

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Reconstrução

Jamais seria capaz de imaginar-me em um lugar como àquele, justo eu, avessa ao uso de qualquer palavrão. Não dizia bunda e nem sovaco, que nem é palavrão, mas sempre achei uma palavra feia.
Aqui estou a fazer uma coisa que julgava que só as mulheres excessivamente maquiadas, com os seios saltando do decote seriam capazes de fazer. Estou novamente fugindo das palavras, achava que só as prostitutas seriam capazes de fazer. Será que me transformei em uma a minha própria revelia? Não! Afora as grandes catástrofes nada acontece de um segundo para o outro. É tudo uma questão de construção.
Como aquela sala que nem minha era, mas como um espelho cristalino ora me cegava, ora despia-me a alma. Às vezes penso que a alma da gente é como um pulmão. Vai mudando de cor dependendo dos nossos abusos. Cor de grafite, sinto a cor de minha alma frente àquela sala que denunciava uma rotina, um construir de tijolinhos.
A poltrona de frente para o sol da manhã, quase posso vê-lo sentado em manhã fria, com uma xícara de chá fumegante e um pratinho de torradas que jamais passariam pelo meu controle de qualidade: Quase saídas de um incêndio! Era como ele gostava.
Um pouco de poeira na sala que ainda não fora arrumada. São oito horas da manhã e sinto-me estupidamente intrusa.
O cheiro do café fresco espalha-se pela sala e corredor.
_Você nem tocou no pão de queijo. Coma enquanto está quentinho. É assim que o Alberto gosta. Acho que todo mundo...não é? Riu meio sem graça.
_Volto outra hora com mais tempo. Pego no trabalho daqui a pouco.
_Não sei por que ele demora tanto. Saiu para comprar pão, jornal e até agora... Deve estar de papo com o dono da banca.
Senti vontade de atravessar feito alfinete, ir para casa, tomar um longo banho de água benta, esbofetear-me frente ao espelho até que o meu rosto fique da cor da minha alma naquele momento: rubra, consumindo-se em chamas ou então tirar-lhe aquele avental maldito, que tanta pureza lhe trazia. Ordenar-lhe que se enfeite, que use água de cheiro, levante os cabelos e coloque uma presilha.
Descobri naquele momento que o casamento, muitas vezes, abençoa as mulheres, mas aquele homem nada, nem o renascimento o salvaria.
Stella Tavares

(Extraído do livro "O Adestrador de Sentimentos" de Stella Tavares - publicado em 2007)

19 comentários:

Amar sem sofrer na Adolescência disse...

Caros amigos
Estou publicando também no curabula livroclube. Sentirei muito feliz se puder contar com sua visita. Uma linda semana para todos.
www.curabulalivroclube.blogspot.com
Bjs.

angela disse...

Stella
Bonito texto, gostei muito das imagens e de como vai ficando claro o que aconteceu (ia) naquela alma de mulher.
beijos

Unknown disse...

Momentos que nos levam a cometer atitudes que sequer imaginariamos..
Proprio dos sentidos reacionários, não pensantes, levando o orgulho, hipnóticamente...
Ao sermos barrados, a gente sai do transe, o orgulho esperneia concomitantemente e a gente sai correndo, sem compreender nossas fraquezas... São os nossos picos que fagulham como pontas de agulhas, se atritando...

Stella,
Maravilhoso texto, como sempre...
parabéns, gosto de tuas escritas...

Bjss

Priscila Rôde disse...

Nossa Stella, eu adorei!
Vou dá uma passada lá no cura bula..
Beijos euma linda semana pra você também!

Rosemildo Sales Furtado disse...

Oi Stella! Belo texto. Gostaria se possível, mandásse-me por e-mail informações sobre a aquisição do livro, pois vou juntar um dinheirinho pra ver se posso comprar.

Beijos,

Furtado.

Luciana Santiago disse...

Oi, stella, vc ñ respondeu á meus e-mails! Obrigada por tudo! Por ter me enviado seu livro maravilhoso! Amei! Bjs

Everson Russo disse...

Belissimo texto....daqueles que a gente vai lendo e criando as imagens das cenas na cabeça,,,,um lindo dia pra ti querida...beijos

Úrsula Avner disse...

Oi Stella, bem articulado seu texto! Agradeço o carinho de sua simpática visita e comentário. Bj.

Antonio Coni Neto disse...

Belo texto... gostei do blog...Estou a seguir.
Beijos,

Paulo Tamburro disse...

Stella, comentar o quê.

Vou é ler o livro todo.

Porém, não encontrei aqui, no RIO, algums problema na distribuição?

Um abração carioca.

Sonia Schmorantz disse...

Gostei, ainda não havia lido nada disso.
beijos e um ótimo final de semana

Eliana Tavares disse...

A minha alma hoje anda cinza. Gostei daqui, voltarei!

Sandra disse...

Bonito texto...fiquei imaginando as cenas na cabeça rsrs parabéns!
tenha uma ótima noite

bjs...

Unknown disse...

Anúncio:

Os Desabafos da Sofia mudaram-se para aqui:

http://alguma-incontinencia-verbal.blogspot.com/

beijinhos e abraçinhos

Luciano Braz disse...

Show de texto,
Gostaria de saber sobre aquisição do livro como um todo pois como tenho pouco tempo de passar a lhe visitar aqui acabo perdendo na leitura.

Abraço

Luciano Braz

cristinasiqueira disse...

oi Stella,

Excelente texto.Instiga a querer mais.-e o livro,como adquirí-lo?
parabéns e sucesso.

Cris

Anônimo disse...

Oi Stella,
Cai aqui por acaso, mas fiquei curiosa e quando vi ja havia lido diversos textos. Adorei. De verdade. De repente voce se interessa em contribuir para o nosso site, acho que seria muito benefico, seus escritos sao muito bons.
Entre em contato comigo, por favorr
Abracos,
Sani

Casa RaSena disse...

oiê!
stella adorei este texto! e hoje vim te convidar a ver o post do pudim de leite. espero seu comentário.
bjkinhas com carinhos

Wacinom disse...

Gostei muito dos seus textos, voltarei sempre para conferir as novidades...
Espero sua visita lá no Em construção.
Beijos
e ótima semana.