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Romance escrito em tempo real

segunda-feira, 20 de abril de 2009

A minha insegurança Plínio Menegon - 55 anos Laranjeiras do Sul - PR

Nascido e criado em cidade pequena, tínhamos o rádio como o maior meio de comunicação. Peguei paixão pelas grandes vozes da Rádio Bandeirantes, Tupi, Globo e sonhava em ser locutor. Ali pelos 13 anos, declamava poesias em aniversários de colegas de escola, dia do professor e assim por diante. Aos 16 anos e fazendo parte de um grupo de jovens ligados a Igreja Católica, comecei a fazer a liturgia nas missas de sábado à noite e acreditando que estaria abrindo caminhos.

Certo dia, uma professora de Educação Artistas (naquele tempo tinha), começou a explicar como declamar uma poesia, ler um texto, coisas de imposição de voz, de dar “ênfase” às palavras etc etc. E aproveitou para abrir um parêntese. Dizia ela que quem tem boa voz, geralmente são pessoas que têm a boca grande. E citou como exemplo Cid Moreira e Sérgio Chapelin, então apresentadores do Jornal Nacional. Quanto maior a boca, melhor a sonoridade, as palavras são audíveis, o ar que sai dos pulmões é de maior volume e outras tantas citações que nem gosto de lembrar.
Não sei se essa observação tinha um alvo, mas comecei a desconfiar, pois tenho a boca pequena. Ali começou a morrer meu sonho.

Com muito custo consegui emprestado um gravado. Gravei um texto quatro vezes. Falando com naturalidade, com o gravador um pouco mais longe; falando pausadamente; dando “ênfase” às palavras. E ao ouvi-la conclui: minha voz não era de tom grave como eu imaginava e pior: é fanha. Terrível. Comecei a observar a boca de todos os apresentadores da TV e constatei: todos tinham a boca grande.
Nunca mais declamei poesias e desde então fujo de microfone como o diabo da cruz.

Hoje, vivendo no meio da comunicação e tendo amigos na área do rádio, seguidamente sou “convidado” a falar num microfone apesar de já ter pedido encarecidamente para que me poupassem desse martírio.
Quando não tem como escapar, procuro falar o mínimo possível e, preocupado com o “meu tom de voz”, acabo esquecendo do assunto a ser abordado. Gaguejo.
Bate uma insegurança de fazer inveja a uma criança. Eu simplesmente odeio falar num microfone.
Por ironia do destino, trabalho em jornal e vivo com o gravador na mão. Ao entrevistar, procuro deixar o entrevistado bem à vontade explicando que a gravação não é para rádio, e sim para jornal, para depois se extrair o texto. Digo: - Esqueça que o gravador está aqui e vamos conversar normalmente.
Pelo menos tento passar essa “segurança” ou meu interlocutor. E tem funcionado.

4 comentários:

Pena disse...

Simpática Amiga:
Um belo texto, fluido, cristalino como água límpida de sonhar.
Delicioso, o contexto de falar que acredito numa voz admirável, sensível e doce.
As palavras são feitas por mãos admiráveis de ouro puro, génio, pureza e beleza.
Simplesmente, lindo!
Acreditando um dia ouvir o encanto da sua voz pela soberba escrita que possui de magia e fascínio.
Beijinhos amigos de imenso respeito, estima e admiração

pena

FABULOSO!
OBRIGADO pela simpatia no meu blog.
Bem-Haja, amiguinha.

São disse...

Comunicar é um tema apaixonante, mas complexo.
Uma noite serena.

As Tertulías disse...

Mas que espaco mais interessante. Adorei! E voce é de Resende? Eu práticamente fui criado em Penedo!

Peter Pan disse...

Linda Amiga:
Um verdadeiro encanto de vitalidade humana. Energia. Força.
Quanta ternura jorra de si pelo Mundo.
Tem uma boca cmunicativa de deslumbrar. De princesinha linda!
Beijinhos amigos de um respeito imenso.
Pasmado de pureza e beleza pela sua Arte criativa fabulosa

p.p.

É uma "ternurinha", sabia?