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Romance escrito em tempo real

quarta-feira, 1 de abril de 2009

NEM PEDRA... NEM TIJOLO

Júlio César era um homem solteiro de seus quarenta e poucos anos que morava com sua mãe e duas irmãs. Passava a maior parte do tempo na fazenda e, nas raras vezes que vinha à cidade, e tinha de enfrentar olhares, ele se desesperava. Era imensamente tímido.

Lembro-me de que ele sempre portava nas mãos um objeto qualquer, como a dissimular seu desconforto diante das pessoas. Enquanto passava por elas, dedilhava sobre o objeto, dedos compridos e desajeitados, rosto alternando em cores. Assim sentia-se seguro, já que nunca sabia onde colocar as mãos.

Todos percebiam que aquela era a única maneira de enfrentar esses obstáculos, quase uma missão, o de não demonstrar tamanha insegurança. Mas só conseguia evidenciar ainda mais o problema. A cada vinda à cidade, repetia-se o ritual.

Júlio César perdeu a mãe, uma das irmãs, deixando então, de freqüentar a cidade. Por absoluta falta de motivos, creio que não esteja vivo.

Se me fosse dado defini-lo, hoje, diria não ter sido feio, nem bonito; se não fez nenhum bem, também, nenhum mal causou a ninguém. Parecia não se perder de amores e nem que alguém tivesse suspirado por ele. Era insosso, de vida insípida.

Às vezes, me pergunto como teria sido sua vida, se tivesse derrubado aquela imensa muralha que lhe atrofiava os gestos, reduzia-lhe os sorrisos, mutilava suas palavras...

4 comentários:

Anônimo disse...

derrumbar as muralhas as vezes nos custa tanto em todos os casos...mas vale a pena tentar vencer cada obstaculo ;)

Pena disse...

Linda Amiga:
Uma narrativa brilhante, indo ao pormenor das situações criadas com um preciosismo notável e fantástico.
Descreve, com beleza e génio de uma grande escritora que é, "saltando" com as palavras numa harmonia e bom-gosto a seu belo prazer que faz prender e cativar o leitor.
Parabéns. Notável!
Beijinhos amigos de gigantesco respeito e admiração

pena

Excelente. Adorei, amiga!

Peter Pan disse...

A sua pureza e beleza transcendem, comovem e sensibilizem.
Haverá alguém que não se sinta maravilhado...? Impossível, pela doçura, ternura e delícia como "sente" o que faz.
Beijinhos

p.p./Pena

Feliz Pascoa na companhia dos seus que só podem adorá-la. Devem...
Bem-Haja, Gigante Amiga!

Anônimo disse...

Boa noite,
Vim retribuir a sua visita estou gostando muito do seu blog.
Sou natural de Barra Mansa, cidade vizinha a sua, onde eu morava até 04 meses atrás.

Lendo seu post, chego a conclusão de que somos os responsáveis pelas muralhas que nós mesmos erguemos ao redor de nós...
Quando puder, conheça meu outro blog, o CAMINHANDO, tem um link dele lá no fim do post do Fragmentos.

Um fim de semana iluminado, Cris